SINDICATO DE ATLETAS PROFISSIONAIS DO BRASIL
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Fundado em momento crítico do sindicalismo nacional, Sindicato de Atletas SP completa 71 anos nesta segunda-feira (23)

Entidade dos jogadores, criada por Hélio Caxambu e companheiros durante o governo Dutra, chega em 2018 com reconhecimento internacional

23, JULHO 2018 às 12:29:22

Há exatos 71 anos, em 23 de julho de 1947, quinze atletas liderados por Hélio Geraldo Caxambu (ex-goleiro do São Paulo FC) fundavam o primeiro sindicato de atletas profissionais do Brasil, o Sindicato de Atletas Profissionais do Estado de São Paulo (SAPESP). O primeiro encontro aconteceu na sede da Associação Comercial, na Rua Libero Badaró, em São Paulo (SP), em momento político extremamente conturbado para as entidades representativas.

SAPESP DÉCADA DE 50 

Para entender melhor o contexto da época, precisamos voltar dezessete anos no tempo. Até 1930, o Brasil vivia a República Velha com a política do Café-com-Leite, onde os governos eram alternados entre candidatos de São Paulo e Minas Gerais. O acordo envolvia as oligarquias estaduais e o governo federal funcionava apenas para manter o controle nas mãos das elites, as grandes proprietárias de terras do Brasil.
 
Acontece que em 1929, Washington Luís (nascido em Macaé-RJ e erradicado em São Paulo) resolveu apoiar a candidatura do paulista Júlio Prestes como sucessor. A decisão desagradou os mineiros, que se aliaram ao então governador do Rio Grande do Sul, Getúlio Vargas e a João Pessoa, da Paraíba. Juntos formaram a Aliança Liberal, chapa de oposição que pretendia acabar com a política elitista e promover diversos avanços para os trabalhadores.
 
GOLPE DE 1930
O resultado nas urnas, no entanto, deu ampla vitória a Júlio Prestes, mas ele sequer chegou a assumir. Em um primeiro momento, os oposicionistas aceitaram a derrota, até que João Pessoa, vice da chapa, é assassinado. Em 24 de outubro de 1930, a Aliança Liberal usa a morte e Pessoa como pretexto para derrubar Washington Luís do poder, acusando o governo de ter participado do crime.

Getúlio Vargas com outros líderes da Revolução de 1930, em Itararé, São Paulo, logo após a derrubada de Washington Luís

GOVERNO PROVISÓRIO 30-34
Getúlio Vargas assume a chefia do Governo Provisório e logo mostra a que veio. Fechou o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas Estaduais e as Câmaras Municipais; e, por fim, cassou a Constituição de 1891, até então vigente.

Após a Revolução Constitucionalista de 1932, liderada pelos paulistas, Vargas cede e reabre a Assembleia Nacional Constituinte em 1933. Um ano depois, promulga a nova Constituição com eleições marcadas, trazendo novidades como o voto secreto, o ensino primário obrigatório, o voto feminino e diversas leis trabalhistas. É eleito legitimamente pela primeira vez.
 
GOVERNO CONSTITUCIONAL/ESTADO NOVO
Vargas governa de 1934 até 1937, quando as conspirações comunistas lideradas por Luís Carlos Prestes contra seu governo o levam a criação do ESTADO NOVO, uma nova ditadura que voltaria a fechar o congresso e que duraria até 1945.
 
GOVERNO DUTRA E INTERVENÇÃO NOS SINDICATOS
Ministro da Guerra no governo Vargas, Eurico Gaspar Dutra (foto) assume a presidência em 1946, um ano antes da fundação do Sindicato de Atletas São Paulo. Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o avanço da Guerra Fria, ele muda radicalmente a política externa rompendo com a União Soviética e se aliando aos Estados Unidos. Anunciou também a intervenção do governo federal em 143 sindicatos, causando revolta na classe trabalhadora e promovendo o arrocho salarial, indo na contramão de seu antecessor populista.
 
Mesmo com o quadro completamente adverso, o Sindicato de Atletas São Paulo nasceu e ganhou espaço. Contou com o apoio de nomes importantes da época, e posteriormente com o próprio Rei Pelé, que se tornaria conselheiro fiscal na gestão Gerson Passadore (1958-1969). Bellini, Gilmar dos Santos Neves e Djalma Santos também participavam ativamente da entidade. 
 

DIAS ATUAIS

Passados 71 anos, após muitos acontecimentos políticos, o Sindicato de Atletas Profissionais de São Paulo chega em 2018 com muita força, e principalmente, com muito fôlego. É a maior entidade de classe de esportistas do Brasil e responsável diretamente pela maioria das conquistas da categoria, tais como: fim do passe, direito de arena, férias 30 dias, pré-temporada mínima de 30 dias, fim do afastamento, parada para hidratação, Expressão Paulista, EducAtleta, palestras, convênios, entre outros.


 
O sindicato passou ainda pelas mãos de Emerson Leão, Palhinha, Waldir Peres, Oscar e Toninho Cecílio antes de chegar ao atual presidente, Rinaldo Martorelli. 
 
DATAS E ACONTECIMENTOS IMPORTANTES

Carta Sindical
Em 11 de outubro de 1949 foi concedida a carta sindical, que elevou a associação à categoria de sindicato. A Associação de Jogadores de Futebol criada em 23 de julho de 1947, passava a ser consolidada como Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado de São Paulo.

Sócio Número 1
José Procópio Mendes, mais conhecido como Zezé Procópio, foi um consagrado jogador de futebol da década de 30 e 40. Nesse período, atuou como lateral e meio campista no Villa Nova-MG, Atlético-MG, Botafogo-RJ, Palmeiras e São Paulo. Disputou a Copa do Mundo de 1938 pela seleção brasileira. Foi ele prestigiado com a carteirinha de sócio número 1 do SAPESP, quando de sua fundação, em 1947. Helio Geraldo Caxambu foi aclamado o sócio número 2 e primeiro presidente da entidade.

Acordo Pioneiro
Em dezembro de 1949 o dirigente da Sociedade Esportiva Palmeiras, Jordão Bruno Saccomani, a fim de promover a sua fábrica Balas Futebol, fechou parceria pioneira e inédita com o SAPESP, até então. Saccomani propôs  a criação de um álbum de figurinhas com os jogadores de futebol da época e, em troca, pelo uso da imagem dos atletas, comprometeu-se em repassar uma verba para a entidade.

Apoio Financeiro aos atletas desempregados
Em março de 1955, o presidente do SAPESP, José Carlos Bauer (foto), tem por objetivo dar apoio aos atletas desempregados, através de uma assistência econômica aos jogadores sem contrato e criando uma seleção formada por esses elementos, a fim de que eles permaneçam em atividade até encontrarem um novo clube.

Em outubro de 1960, o SAPESP amplia a assessoria aos atletas com dificuldades financeiras.

Participa da elaboração da Lei 761-55

Em janeiro de 1956 o SAPESP é uma das entidades envolvidas na criação do Departamento Nacional de Esportes, vinculado ao Ministério da Educação e Cultura, a fim de estabelecer as bases da organização ddo esporte no País.

Reivindicação de promessa feita pelo Governo Brasileiro
Em 10 de agosto de 1959, o SAPESP emite carta ao Congresso Nacional cobrando sobre a promessa feita pelas autoridades do país aos atletas brasileiros campeões mundiais de futebol na Suécia em 1958 da cessão de uma casa própria para cada um, como prêmio pela conquista inédita.

Criação do Troféu Melhores do Ano
Em 6 de janeiro de 1960, o SAPESP participa da criação junto do “Troféu Melhores do Ano Carlos Joel Nelli”, em parceria com a Federação Paulista de Futebol e o Jornal A Gazeta Esportiva, visando a valorização dos atletas no futebol paulista. Os primeiros premiados foram  contemplados no dia 14 de dezembro de 1960, a saber:

Melhor juiz: Olten Aires de Abreu
Jogador revelação: Heraldo (meia do Guarani de Campinas)
Jogador mais disciplinado: Gersio Passadore (meia do São Paulo Futebol Clube)
Clube mais disciplinado: Associação Portuguesa de Desportos
Melhor técnico: Lula (Santos Futebol Clube)
Homenagem Póstuma: Julinho (América de São José do Rio Preto)

Ampliando fronteiras
No dia 27 de agosto de 1960, Hélio Geraldo Caxambu assume como vogal dos empregados da 9 Junta de Conciliação e Julgamento da Justiça do Trabalho de São Paulo. É o primeiro ex-atleta a assumir um posto dessa natureza, fortalecendo ainda mais a sua atuação como representante do SAPESP nas esferas jurídicas.

Eleições no Sindicato
Em 2 de dezembro de 1962 é realizada as Eleições no Sindicato dos Atletas. Gersio Passadore candidato eleito para assumir a presidência. Principal objetivo da gestão era a Luta pelo décimo terceiro salário para os atletas.

Regulamentação da Profissão
Em 25 de março de 1964 é regulamentada por decreto a profissão de atleta.

Aniversário do Sindicato
No dia 23 de julho de 1964 foi celebrado o aniversário de 17 anos do Sindicato dos Atletas de São Paulo. Na ocasião, houve a inauguração de uma galeria com fotos dos seus ex-presidentes em sua sede social: Helio Geraldo Caxambu (47-50), Milton Medeiros (Canhotinho) (50-53), Manoel Pinto Figueiredo (Manoelito) (53-56), José Carlos Bauer (56-59), Alberto Chuairi (Turcão) (59-60) e Gersio Passadore (60 em diante). Houve também homenagem ao Sr. Mario Frugiuelli (primeiro sócio-benemérito do Sindicato).

Eleições no Sindicato
Em 16 de fevereiro de 1965 foi realizada eleições no Sindicato dos Atletas. Gersio Passadore, candidato único, foi reeleito para o cargo de presidente.

A partir de 7 de março de 1965, Edilson (jogador da Portuguesa de Desportos), eleito tesoureiro do Sindicato, inicia um trabalho de reivindicação por maior coesão da categoria e melhorias salariais.

Em 15 de março de 1965 foi composta a Diretoria do Sindicato:

Presidente: Gersio Passadore (reeleito)
Tesoureiro: Edilson Rodrigues (Portuguesa)
Secretario: Silvio Sampaio Filho (Juventus)
Conselho Fiscal: Pelé (Santos), Bellini (São Paulo), Gilmar dos Santos Neves  (Corinthians), Valdir de Moraes (Palmeiras), Djalma Santos (Palmeiras)
Diretor: Helio Caxambu
Principais metas da gestão: Aumentar o quadro de sócios, proteção a classe de jogador, regulamentação da Lei do Passe e Assistência Jurídica.

Principais avanços e conquistas do Sindicato no início dos anos 60: Governador Carvalho Pinto doa terreno para o Sindicato construir a colônia de férias dos atletas em Praia Grande. Criação de subsedes nas cidades do interior. Mediação entre clubes e jogadores em possíveis confiltos contratuais. Luta pelo 13 salário para os atletas. Luta para que o contrato do atleta não seja inferior ao pagamento de um salário minímo, principalmente aos  atletas do clubes do interior paulista.

Regras para a Lei do Passe
No dia 5 de abril de 1965 o Conselho Nacional de Desportos estipula regras para a regulamentação da Lei do Passe, com a participação do SAPESP.

Coluna no Jornal
Em 9 de abril de 1965, o Sindicato inaugura no Jornal A Gazeta Esportiva uma coluna dedicada as suas atividades.

Lei do Passe
No dia 25 de novembro de 1967, foi aprovada a nova regulamentação da Lei do Passe, que vinha tramitando há alguns anos. O SAPESP teve participação direta nos trabalhos que ditaram novas normas na relação entre clubes e jogadores.

Caso Djalma Dias
Em 1967, SAPESP apoia a liberação do passe do zagueiro Djalma Dias junto a Sociedade Esportiva Palmeiras.

Caso Aldo
Em 1967, SAPESP apoia a liberação do passe do goleiro Aldo junto ao  Clube Atlético Bragantino.

Caso Zé Maria
Em 1970, SAPESP apoia a liberação do passe do lateral-direito Zé Maria junto a Portuguesa de Desportos para que ele atuasse pelo Corinthians.

Luta contra o Doping
O ex-jogador e técnico de futebol Francisco José Sarno Matarazzo lançou um livro polêmico denominado “Futebol, a Dança do Diabo”, em 1965, em que entre outros assuntos, lançou um alerta para a questão do doping no futebol ser algo frequente e comum. Como não havia um controle organizado, a partir de março de 1967, o SAPESP se mobilizou e iniciou uma campanha de conscientização e combate a essa prática ilícita junto aos atletas.

Férias dos Atletas
A partir de 1969, o SAPESP reivindica que se cumpra um calendário mais racional no futebol paulista, visando com  isso que os direitos as férias dos atletas sejam respeitados pelos clubes.

Regulamentação da Profissão
No dia 2 de setembro de 1976 é decretado e regulamento por força de Lei Federal a profissão de Atleta Profissional de Futebol.

Combate contra a violência no futebol
Em 21 de setembro de 1983, o SAPESP se posiciona e formula um pacto contra a violência no futebol.

Diretas Já
Em 2 de dezembro de 1983, Valdir Peres, presidente do SAPESP, apoia o movimento das Diretas Já.

Homenagem
Em 23 de janeiro de 1984, o SAPESP homenageia o meia Ademir da Guia.

Eleições no Sindicato
Em 17 de fevereiro de 1984, Vladimir é eleito o novo presidente do SAPESP.

Novas adesões
Em 19 de junho de 1984, SAPESP faz inscrição de atletas e novos sócios durante o Torneio Início do Campeonato Paulista.

Convênio Médico
Em 27 de julho de  1984, Sindicato firma convênio médico para os atletas profissionais de futebol.

Boletim Informativo
Em 21 de agosto de 1984, SAPESP lança seu primeiro jornal informativo.

Doping no futebol
Em 19 de outubro de 1984, SAPESP ameaça paralisação do Campeonato Paulista por causa dos casos de doping de Eneas Camargo e Mario Sergio.

Lei Pelé
Em 24 de março de 1998, o SAPESP junto com inúmeros órgãos, autoridades e entidades, enfim, obtém uma conquista histórica para toda a classe de atletas profissionais, ao ver promulgada a Lei Pelé, cujo efeito mais conhecido foi ter mudado a legislação sobre o passe dos jogadores de futebol.

Galeria dos Presidentes:
1947 a 1950 – Hélio Geraldo Caxambu
Anos 50 - Milton Medeiros (Canhotinho), Leopoldo José (1955 interino), Manuel Pinto Figueiredo (Manuelito), José Carlos Bauer, Alberto Chuaire (Turcão) – Falta saber as datas corretas de cada mandato
1958 a 1969 – Gersio Passadore (reeleito em março/67)
1969 a 1972 – Gilmar dos Santos Neves (eleito em 25/4/1969). Chapa: Dudu (vice-presidente), Picasso (tesoureiro), Heitor (secretario geral)
1973 a 1976 – Olegário Toloi de Oliveira (Dudu) (eleito em 19/5/1975). Chapa: Lance (secretario), Leão (tesoureiro)
1977 – Emerson Leão
1978 a 1979 – Vanderlei Eustáquio de Oliveira (Palhinha)
1980 a 1983 – Waldir Peres de Arruda
1984 a 1985 – Wladimir Rodrigues dos Santos (eleito em 17/2/1984)
1986 a 1987 – José Oscar Bernardi
1988 a 1989 – Waldir Peres de Arruda
1990 a 1993 – Antonio Jorge Cecilio Sobrinho
1993 até os dias atuais – Rinaldo José  Martorelli (até os dias atuais)



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